Ex-prefeito de Juiz de Fora, preso por envolvimento na Operação Pasárgada, se converte ao protestantismo e garante que agora quer ser apenas candidato a filho de Deus
Ricardo Beghini - Estado de Minas
Publicação: 13/06/2010 08:02 Atualização: 13/06/2010 08:16
"Tenho certeza de que Deus já perdoou os vários erros que cometi. Estou nas mãos da Justiça da terra e o que ela resolver, eu vou cumprir" |
A decisão de abandonar a candidatura é tão surpreendente quanto as razões elencadas por Bejani para desistir do cargo eletivo. No domingo passado, o ex-devoto de Nossa Senhora de Rosa Mística se converteu ao protestantismo. Ele, a mulher, Wanessa Loçasso, e os três filhos, na presença de milhares de fiéis, foram batizados na sede principal da Igreja Batista de Juiz de Fora. “Ninguém pode suspeitar que estou procurando a igreja para buscar votos. Sou candidato a filho de Deus e a mais nada. Minha vida mudou completamente”, avisou o ex-prefeito.
Um novo Bejani surge quase simultaneamente à decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que determinou o desmembramento do Inquérito 603, a Operação Pasárgada. Com a medida, toda a parte referente a Juiz de Fora será enviada ao promotor Paulo César Ramalho, que será o responsável por apresentar a denúncia formal contra todos os envolvidos, incluindo o próprio Bejani, empresários, assessores, autoridades e até o ex-presidente da Câmara, Vicente de Paula (PTB), o Vicentão.
“Acho primeiro uma falta de respeito ser candidato a qualquer cargo eletivo, seja estadual, municipal ou federal, neste momento em que estou sendo investigado. Tenho que ter as condições normais de um cidadão comum para a investigação caminhar normalmente. Não quero atrapalhar ou retardar o processo”, disse ele em seu escritório da Avenida Rio Branco, no Centro de Juiz de Fora, em mais uma entre várias surpreendentes declarações. O ex-prefeito recebeu a equipe do Estado de Minas na companhia do irmão e de um amigo, diferentemente dos tempos em que vivia cercado por seguranças e assessores.
Perdão
Apesar de se apresentar serenamente, Bejani não poupou críticas ao promotor Paulo Ramalho, a quem acusa de perseguição. “Quando vejo o promotor dizer que vai dedicar tempo exclusivo, isso mostra um indício de perseguição”, reclamou ele, que alega estar sendo condenado antecipadamente. Mas, segundo Ramalho, a decisão de priorizar o inquérito da Operação Pasárgada veio da Procuradoria por causa da repercussão do caso. “Faz parte do planejamento e a sociedade precisa de uma resposta. Não estou perseguindo ninguém”, rebateu o promotor.
Um novo Bejani surge quase simultaneamente à decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que determinou o desmembramento do Inquérito 603, a Operação Pasárgada. Com a medida, toda a parte referente a Juiz de Fora será enviada ao promotor Paulo César Ramalho, que será o responsável por apresentar a denúncia formal contra todos os envolvidos, incluindo o próprio Bejani, empresários, assessores, autoridades e até o ex-presidente da Câmara, Vicente de Paula (PTB), o Vicentão.
“Acho primeiro uma falta de respeito ser candidato a qualquer cargo eletivo, seja estadual, municipal ou federal, neste momento em que estou sendo investigado. Tenho que ter as condições normais de um cidadão comum para a investigação caminhar normalmente. Não quero atrapalhar ou retardar o processo”, disse ele em seu escritório da Avenida Rio Branco, no Centro de Juiz de Fora, em mais uma entre várias surpreendentes declarações. O ex-prefeito recebeu a equipe do Estado de Minas na companhia do irmão e de um amigo, diferentemente dos tempos em que vivia cercado por seguranças e assessores.
Perdão
Apesar de se apresentar serenamente, Bejani não poupou críticas ao promotor Paulo Ramalho, a quem acusa de perseguição. “Quando vejo o promotor dizer que vai dedicar tempo exclusivo, isso mostra um indício de perseguição”, reclamou ele, que alega estar sendo condenado antecipadamente. Mas, segundo Ramalho, a decisão de priorizar o inquérito da Operação Pasárgada veio da Procuradoria por causa da repercussão do caso. “Faz parte do planejamento e a sociedade precisa de uma resposta. Não estou perseguindo ninguém”, rebateu o promotor.
Saiba mais...
Bejani se filia a novo partido na surdina MP pede sequestro de fazenda de Alberto Bejani Promotoria pede 15 anos de prisão para Alberto Bejani Entre o gabinete e as celas da cadeia
Embora as denúncias relativas à Operação Pasárgada só devam ficar prontas no fim deste ano ou início do ano que vem, Bejani já responde a processos nas esferas civil e penal pelo suposto esquema de corrupção envolvendo o Executivo juiz-forano e o grupo SIM, contratado sem licitação, em 2007. Nessas ações, o ex-prefeito foi denunciado por corrupção passiva, dispensa indevida de licitação, improbidade administrativa com lesão ao erário, enriquecimento ilícito e ofensa aos princípios da administração pública. O Ministério Público requer a prisão de Bejani por até 15 anos e oito meses, perda de direitos políticos por 10 anos e ressarcimento aos cofres públicos de R$ 1,12 milhão, equivalente ao valor apreendido pela Polícia Federal na mansão do ex-prefeito. “Tenho certeza de que Deus já perdoou os vários erros que cometi. Estou nas mãos da justiça da terra e o que ela resolver, eu vou cumprir”, salientou Bejani, ressaltando, por outro lado, que não abre mão de seus direitos constitucionais e que vai se defender em todas as instâncias. Bejani se filia a novo partido na surdina MP pede sequestro de fazenda de Alberto Bejani Promotoria pede 15 anos de prisão para Alberto Bejani Entre o gabinete e as celas da cadeia
Bíblia no cárcere e curso para pastor
Dos envolvidos na Operação Pasárgada, Bejani foi o que mais tempo permaneceu na prisão. Foram mais de 80 dias no cárcere em dois momentos distintos. O petebista foi detido em 9 de abril e liberado no mesmo mês. Em 12 de junho, o ex-prefeito voltou para a cadeia, porque teria ameaçado uma testemunha, ficando mais dois meses na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, na Grande BH. A situação do ex-prefeito havia se agravado, porque a Polícia Federal apreendeu DVDs que mostram negociações entre ele e empresários, supostamente para liberar o aumento das tarifas de transporte público na cidade.
A passagem pela cadeia foi que o motivou Bejani a buscar outros caminhos religiosos. “Vi muitos garotos condenados que não precisam de prisão, mas sim de um hospital. Não vi padres, mas somente pastores orando e escutando os detentos, amenizando o sofrimento daquelas pessoas”, ressaltou. Bejani conta que, na cadeia, ganhou uma Bíblia de um dos religiosos, e começou a ler os textos do livro sagrado. “Não tinha outra coisa a não ser conversar com Deus”, relatou.
O ex-prefeito e a mulher estão cursando teologia no Seminário Internacional de Teologia, em São Paulo. O curso é à distância, mas exige dois encontros presenciais por mês. Curiosamente, o futuro pastor ingressou no gabinete da Prefeitura de Juiz de Fora, em 2005, segurando uma imagem de Nossa Senhora da Rosa Mística, conhecida como a “santa que chora”. Hoje, o sentimento em relação à mãe de Jesus não é mais o de um devoto.
“Maria foi uma mulher abençoada, porque foi escolhida entre milhares para receber o menino Jesus”, disse Bejani. Por outro lado, e com a ajuda de um iPhone, ele localizou o capítulo 20 do livro de Êxodos. “Não devemos adorar imagens”, citou o ex-prefeito, salientando, por outro lado, que não guarda rancor da Igreja Católica. “Vocês estão perdendo fiéis, pois não estão comparecendo aos lugares onde mais se precisa da palavra de Deus”, alertou.
O Bejani engajado na fé garante que não está usando a religião para comover as autoridades e faz questão de frisar que por trás de sua conversão não há interesses eleitorais. “Geralmente, o político procura a igreja para ser candidato, mas eu estou querendo o voto de Deus”, disse ele, que agora trabalha como empresário da construção civil no interior do Rio de Janeiro. “Mesmo que a justiça dos homens ache que um dia eu devo voltar para lá, nada vai me tirar deste caminho.”